Coluna | Alguma coisa em mim que eu não entendo
Livros não nascem prontos (exceto pelas exceções). Em seus caminhos-crisálidas, palavras se perdem, outras se acrescentam. Mas o (re)verso do que se publica, o lado B, os poemas omitidos talvez com(o) vergonha, podem ainda cavar sua luz, seu ar, dialogar com os livros dos quais se descolaram, e quem sabe onde podem chegar? Publicado meu lagarta chã (Já leram? Gostaram?), ofereço aqui na Vício Velho quatro poemas retirados dele antes da gráfica, unidos pela falta de título e pelos inalcances do desejo.
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digo ao pai
tenho a idade
que você tinha
quando nasci
e veja
que curioso
temos hoje
idades invertidas
(o pai é bom de conta)
a mana indaga
e eu?
você que faça
sua matemática
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look, just fucking look at it. around
the roots, the fence, the trees, it’s already a playground
i tell her
but she’s gonna hurt
that’s life — i absolutely scream
you get hurt, you get up, you get ahead
(or a head, if you’d rather
i saysmile to myself
alone)
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principio por limpar a casa
porque isso me suja
meu corpo (outra casa tua)
lavo depois, com calma
para que tudo
ao meu alcance:
a casa
o corpo
a hora
(o desejo?)
esteja pronto
para ti
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umencantatória
delícia do desejo
é sua bifronte
natureza de lâmina
onde dançamos
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Thássio Ferreira é escritor, autor de (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016), Itinerários (Ed. UFPR, 2018), agora (depois) _(Autografia, 2019) e Nunca estivemos no Kansas (Patuá, 2022). Tem poemas e contos publicados em revistas e antologias, como Revista Brasileira (nº 94), da Academia Brasileira de Letras, Escamandro, Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Germina, Revista Ponto (SESI-SP), aqui na Vício Velho, InComunidade (Portugal), e outras. Seu conto _Tetris foi o vencedor do Prêmio Off Flip 2019, e seu livro inédito Cartografias, finalista do Prêmio Sesc 2017. Foi editor e curador da Revista Philos de Literatura Neolatina. Mantém página no Facebook e o Instagram
VÍCIO VELHO 