Coluna | Alguma coisa em mim que eu não entendo
um poema no interior do piauí, no olho do antropoceno, no coração
#matopiba meu amor
sobre o poente imenso
bucho de pedra do matopiba
após os pássaros
e pinturas rupestres
mais tatu bola
caititu e melíponas
(pra tudo que não sabes
tem apps e sites)
sobra o quê?
por trás da chuva
memória: seca
um medo: mudanças
climatostróficas
o gado magro
bodes cubistas
asfalto novo
(lembram arthur bernardes
governar é construir estradas
se errei o nome foda-se
confundir o inimigo
é preciso)
crianças, poucas
(a taxa de natalidade
no brasil caiu a menos
de dois pela primeira vez
em dois mil e oito)
limpas vestidas
parrudinhas de sorrisos
e pés no sol
(em mais ou menos
quinze anos, os óbitos
de menores de um ano
caiu quase a metade
no piauí)
isso sim
(também)
importa
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Thássio Ferreira é escritor, autor de (DES)NU(DO) (Ibis Libris, 2016), Itinerários (Ed. UFPR, 2018), agora (depois) _(Autografia, 2019) e Nunca estivemos no Kansas (Patuá, 2022). Tem poemas e contos publicados em revistas e antologias, como Revista Brasileira (nº 94), da Academia Brasileira de Letras, Escamandro, Gueto, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Germina, Revista Ponto (SESI-SP), aqui na Vício Velho, InComunidade (Portugal), e outras. Seu conto _Tetris foi o vencedor do Prêmio Off Flip 2019, e seu livro inédito Cartografias, finalista do Prêmio Sesc 2017. Foi editor e curador da Revista Philos de Literatura Neolatina. Mantém página no Facebook e o Instagram
Imagem: Canva